A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou, a partir desta terça-feira (11), a suspensão das operações aéreas da Voepass, companhia composta pela Passaredo Transportes Aéreos e pela Map Linhas Aéreas. A empresa, que opera em 15 localidades no Brasil, incluindo duas cidades mineiras – Ipatinga e Juiz de Fora –, teve suas atividades interrompidas por questões de segurança. Com essa medida, o Vale do Aço perde a única rota direta para São Paulo, restando apenas uma companhia aérea operando no Aeroporto Regional. A decisão surpreendeu muitos passageiros que haviam adquirido passagens e dependiam da companhia para seus deslocamentos.
Motivo da Suspensão e Medidas Adotadas pela Anac
A suspensão da Voepass foi determinada em caráter cautelar e será mantida até que a empresa comprove ter corrigido as irregularidades apontadas. A Anac informou que auditorias realizadas nos sistemas de gestão da companhia identificaram falhas graves, incluindo reincidências de problemas já notificados anteriormente.
Em nota oficial, a agência reguladora explicou que a decisão se baseia na “incapacidade da Voepass em solucionar irregularidades identificadas no curso da supervisão realizada pela agência, bem como na violação das condicionantes estabelecidas anteriormente para a continuidade da operação dentro dos padrões de segurança exigidos”.

Impacto nos Passageiros e Procedimentos para Reembolso
Com a suspensão, passageiros que haviam adquirido passagens devem buscar a Voepass ou as respectivas agências de viagem para solicitar reembolso ou realocação em outras companhias. A Resolução 400 da Anac garante aos clientes o direito de ressarcimento ou de acomodação em outros voos disponíveis. No entanto, muitos passageiros demonstraram preocupação, temendo dificuldades no processo de devolução do valor investido nas passagens.
Atualmente, a Voepass conta com seis aeronaves em operação e atende diversas cidades brasileiras, incluindo Guarulhos, Congonhas, Rio de Janeiro (Galeão), Recife, Florianópolis, Manaus e Fernando de Noronha. Em Minas Gerais, além de Ipatinga, também operava em Juiz de Fora. Com a suspensão das atividades da companhia, esses destinos ficam comprometidos, impactando diretamente a conectividade de várias regiões do país.
Histórico de Problemas e Acidente Fatal em 2024
A suspensão das operações da Voepass não foi uma decisão isolada. A companhia já vinha sendo monitorada de perto pela Anac após um acidente trágico ocorrido em 9 de agosto de 2024, quando uma aeronave caiu em Vinhedo (SP), resultando na morte de 62 pessoas.
Após o acidente, a Anac intensificou a fiscalização sobre a empresa, adotando uma operação assistida de monitoramento. Equipes da agência reguladora foram enviadas para as bases operacionais e de manutenção da Voepass para garantir que a empresa estivesse cumprindo os protocolos de segurança exigidos.
No entanto, em outubro de 2024, a Anac determinou que a companhia reduzisse sua malha aérea, aumentasse o tempo de manutenção das aeronaves e realizasse mudanças na administração. Além disso, a empresa foi obrigada a adotar um plano de ação para corrigir problemas de segurança identificados. Mesmo assim, uma nova auditoria realizada em fevereiro de 2025 constatou que a Voepass não havia atendido plenamente às exigências da Anac.
De acordo com o relatório da agência reguladora, “foi identificada a degradação da eficiência do sistema de gestão da empresa em relação às atividades monitoradas e o descumprimento sistemático das exigências feitas pela agência”. Além disso, a Anac verificou que a empresa reincidiu em falhas anteriormente apontadas como corrigidas, o que levantou dúvidas sobre sua capacidade de gerenciar riscos operacionais de forma eficaz.
Diante dessas constatações, a Anac concluiu que a Voepass não poderia continuar operando sem colocar em risco a segurança dos passageiros. “Houve uma quebra de confiança em relação aos processos internos da empresa, devido a evidências de que os sistemas da Voepass perderam a capacidade de dar respostas adequadas à identificação e correção de riscos da operação aérea”, declarou a agência.

Reação do Governo e da Companhia Aérea
A decisão da Anac recebeu o apoio do Ministério de Portos e Aeroportos, que classificou a medida como necessária para garantir a segurança da aviação no Brasil. “A medida cautelar visa, de forma temporária, solicitar que a empresa aérea melhore sua governança e fortaleça ainda mais a segurança dos voos no país”, afirmou a pasta em nota oficial.
Por outro lado, a Voepass divulgou um comunicado alegando que já iniciou tratativas internas para comprovar sua capacidade de atender aos padrões exigidos pela Anac. “Nossa frota em operação é aeronavegável e apta a realizar voos seguindo as rigorosas exigências de segurança”, declarou a companhia.
A empresa reconheceu que a suspensão de suas atividades tem um impacto significativo sobre os passageiros e afirmou que fará “todos os esforços possíveis” para retomar as operações o mais breve possível. Enquanto isso, garantiu que os clientes afetados serão atendidos conforme as diretrizes estabelecidas pela Anac.
Perspectivas e Próximos Passos
A Voepass enfrenta agora o desafio de apresentar à Anac um plano de ação convincente, que comprove sua capacidade de corrigir as falhas apontadas e restabelecer a confiança do órgão regulador. Especialistas do setor aéreo avaliam que a empresa poderá levar semanas ou até meses para obter a liberação necessária para retomar suas operações. Enquanto isso, passageiros que dependem da companhia precisarão buscar alternativas para seus deslocamentos.
A suspensão das atividades da Voepass também reacende o debate sobre a segurança da aviação regional no Brasil, destacando a necessidade de uma fiscalização rigorosa para garantir que todas as companhias operem dentro dos mais altos padrões de segurança. O caso também serve de alerta para que outras empresas do setor fortaleçam seus sistemas de gestão e evitem cometer os mesmos erros que levaram à interrupção das operações da Voepass.